Cooperativa de Mulheres do Catimbau é inaugurada com foco em bioeconomia e saberes tradicionais da Caatinga
Iniciativa integra projeto nacional e reforça protagonismo feminino no Semiárido a partir do uso sustentável do licuri, ou ouricuri, como é conhecido em Pernambuco. A Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro, acaba de ganhar mais um importante marco em sua trajetória de valorização e uso sustentável: a inauguração da Cooperativa de Mulheres do Catimbau, no município de Buíque (PE), ocorrida no Dia Mundial do Meio Ambiente, 5 de junho. A nova cooperativa é resultado direto do projeto “Cadeia Produtiva do Licuri – Inovação Sustentável para a Bioeconomia da Caatinga”, iniciativa liderada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), por meio do Núcleo de Bioprospecção da Caatinga (NBIOCAAT), em parceria com instituições como a COOPES, o Laboratório Nacional de Biociências do MCTI (LNBio/CNPEM) e a Universidade CEUMA, com financiamento da Finep. A cooperativa recém-criada integra uma cadeia produtiva que tem como eixo o aproveitamento integral do licuri, palmeira nativa da Caatinga. Por meio do projeto, estão sendo desenvolvidas pesquisas com o óleo da amêndoa e o resíduo do fruto, com foco na geração de novos produtos e maior valor agregado. Além disso, as ações envolvem a capacitação de moradores locais e o fortalecimento de boas práticas de manejo, promovendo uma alternativa concreta de desenvolvimento sustentável para as comunidades do Semiárido. “O NBIOCAAT tem se dedicado à conservação da Caatinga pelo uso sustentável, aliando conhecimento científico aos saberes tradicionais”, afirma a professora Márcia Vanusa da Silva, coordenadora do núcleo e docente do Departamento de Bioquímica da UFPE. “Nosso trabalho vai além da pesquisa em laboratório. Atuamos diretamente com comunidades tradicionais, fortalecendo o protagonismo local e promovendo inclusão produtiva, especialmente entre mulheres”, destaca. A pesquisadora ressalta ainda que a iniciativa reforça a importância da bioeconomia para uma nova lógica de desenvolvimento no Nordeste. A criação da cooperativa é um dos frutos de mais de uma década de atuação do NBIOCAAT, que desde 2013 tem desenvolvido ações de extensão, mapeamento etnobotânico e formação científica em escolas públicas. Ao longo desse período, foram coletados saberes de mais de 50 comunidades do Semiárido e realizados projetos como o “Ciência na Caatinga”, que despertou a curiosidade científica de mais de 5 mil estudantes sobre o potencial da flora local. O esforço coletivo fortalece a conexão entre universidade e território, conhecimento e transformação social. LICURI - Conhecido como “ouro do Semiárido”, o licuri (Syagrus coronata) é uma palmeira nativa da Caatinga que desempenha um papel fundamental na cultura, na alimentação e na economia das comunidades tradicionais do Nordeste. Suas amêndoas são altamente nutritivas e seu óleo possui propriedades terapêuticas e cosméticas, sendo cada vez mais valorizado em pesquisas científicas e no mercado de produtos naturais. Além disso, o licuri representa uma alternativa sustentável ao extrativismo predatório, já que seu aproveitamento pode gerar renda sem comprometer a regeneração da planta nem o equilíbrio ecológico do bioma. O fortalecimento da cadeia produtiva do licuri, portanto, une preservação ambiental, inovação tecnológica e inclusão social.